
José Neistein
2011
Sergio Lucena começou a pintar ainda jovem, e hoje, com uma trajetória de trinta anos, ele chegou à sua maturidade artística, depois de ter trilhado várias sendas, de duro aprendizado, e de incansável exercício. Em seus começos figurativos, sua pintura estava fortemente ligada à sua Paraíba natal, seu lendário regional, seus mitos, sua atmosfera. Depois, ele fez um curso vivo de Brasil: viajou, viu e conheceu gentes, viu paisagens, fez-se amigo dos bichos. Mais tarde, ele viveu uns tempos em Berlim, onde absorveu a modernidade. Sua pintura foi acompanhando suas andanças, e foi crescendo. Na Paraíba, seus personagens, saídos do sertão e dos circos mambembes, se davam ao público coloridos, amargos, grotescos e angustiados.

Ofereciam metaforicamente uma visão do mundo, crítica e pensativa. Desde então, sua pintura não mais deixou de ser crítica e pensativa. Mas ela veio se tornando cada vez mais pintura, mais amassada mais elaborada. Depois do lendário regional colorido, vieram os animais míticos, que evocavam um mundo ancestral, alegórico,
fantástico, vazado em virtuosidade, tudo isso em preto e branco. A essa altura, ele já estava estabelecido em São Paulo. A metrópole tanto lhe impôs arranha-céus, como lhe deu a nostalgia de um bestiário fabulizado. Nisso, ele aceita um convite para fazer workshops na Dinamarca, e descobriu a luz nórdica, oblíqua, serena, encantatória, irreal. Essa nova experiência de cor e luz despertou nele algo que já existia muito
fundo em sua personalidade: a dimensão mística, a espiritualidade. Assim. Sergio Lucena enveredou pela abstração, tão movido pelo mistério da luz e da cor como pelo mistério da existência e do cosmos, onde ela evolui. O resultado dessa nova etapa, em sua vida e em sua arte, é um processo que vem se desenvolvendo nos últimos cinco anos. E é com uma seleção de pinturas de formatos grandes, produzidas nesse período, que ele se apresenta agora ao público, oferecendo-lhe o fruto de suas pesquisas, sua meditação, sua meticulosa e vibrante construção pictórica.
O público, nessas novas pinturas, mergulhará na linguagem harmoniosa em que elas estão escritas, compostas de acordes cromáticos, que são pictóricos e são musicais, e que falamde constelações ocultas, mágicas e cósmicas, que todos nós, secretamente, ambicionamos desvendar.
