Entrevista com Sergio Lucena – W. J. Solha
WJS – Sergio, tive um impacto extraordinário, ao ver pela primeira vez uma tela sua, pela poderosa densidade daquele navio a vapor, naquele estranho mar. O quadro estava na entrada da Funjope (Fundação Cultural João Pessoa) , atrás da secretária em seu birô, e a ela pedi seu telefone e, ali mesmo, sem conhecê-lo, o parabenizei. Depois, numa mostra sua no NAC (Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB), foi a vez de me impressionar fortemente com um Van Gogh, seu, fumando cachimbo, na agonia, ante o irmão Theo, e com um fortíssimo Vox Clamantis in Deserto. Em seguida vi um trabalho seu a quatro mãos com o Flávio Tavares – A Pedra do Reino, lá na Funesc (Fundação Espaço Cultural da Paraíba). Você tinha, já, noção do seu potencial enorme?

SL – Quem pode saber de si antes de Ser? Nunca me imaginei artista. Isso até os dezessete anos, quando tive o privilégio de conhecer Flávio Tavares, de entrar em seu ateliê e de ver, pela primeira vez, algo que respondia à falta de significado que me habitava. Naquele momento não me imaginei, eu me soube artista. Nasci algumas vezes nesta vida, mas, esse dia tenho como a minha data oficial. Em verdade, o potencial ao qual te referes tem seu fundamento no sertão da Paraíba, onde tive a felicidade de viver parte da infância. Lá, vivi o mundo como ele é, não como julgamos que deva ser. O mundo silencioso e perene, cujo poder e dimensão situaram-me corretamente na vida. Por certo o impacto causado pela vastidão seca da caatinga soprada pelo vento, o mundo natural onde as pessoas eram para mim a extensão dessa realidade, deram-me o sentido de valor e significado que formaram o alicerce do que sou. A realidade, na sua real potência, é aquela que dá noticia do intangível por meio do que está ao alcance da mão, ao alcance dos olhos e do olfato, aquela que você escuta… O artista se fez quando reencontrei o tesouro esquecido, e foi a pintura que me devolveu o sertão que eu sou.
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